O prolapso da valva mitral é a causa mais frequente de insuficiência mitral e está associado internações por insuficiência cardíaca e mortalidade. Na atualidade o tratamento de escolha é a cirurgia de reparação mitral naqueles pacientes que não apresentam alto risco.
A estratégia percutânea borda a borda (B-B) demonstrou seu benefício nos pacientes de alto risco, mas nos idosos de 80 anos ou mais dita estratégia não está bem analisada e atualmente contamos com bem pouca evidência.
Nesta análise foram incluídos 1187 pacientes. Dentre eles, 872 foram submetidos a estratégia B-B (dos registros Mitra Swiss e Minneapolis Heart Institute Registries) e 315 pacientes não foram submetidos a cirurgia (do registro MIDAS). Todos apresentavam insuficiência mitral degenerativa por prolapso valvar.
A idade média foi de 82 anos, 44% da população esteve constituída por mulheres.
Os pacientes do grupo B-B apresentaram mais hipertensão, cardiopatia isquêmica, fibrilação atrial, classe funcional III-IV, menor fração de ejeção, maior diâmetro do átrio esquerdo e diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo, maior pressão sistólica na artéria pulmonar e maior risco para cirurgia.
Em 30 dias e em 6 meses a mortalidade foi menor para os pacientes submetidos à estratégia B-B em comparação com os que não foram submetidos a cirurgia: 3,6% vs. 6,2% (odds ratio 0,55, 95% CI: 0,31–0,98; p = 0,04) e 8,2% vs. 17,5% (odds ratio 0,42, 95% CI: 0,29–0,62; p < 0,0001), respectivamente. Em 4 anos de seguimento a sobrevida também foi superior com a estratégia B-B (54% vs. 46%; p < 0,0001).
Devido ao fato de as populações serem diferentes, realizou-se um Propensity Score Match, ficando 247 pares de pacientes.
A estratégia B-B apresentou uma melhor sobrevida no seguimento de 4 anos (49% vs. 37%, p = 0,002) em comparação com os pacientes não submetidos a cirurgia.
Leia também: Impacto da reparação endovascular da tricúspide “borda a borda”.
O fracasso do procedimento expresso por uma insuficiência mitral moderada/severa se associou a uma maior mortalidade em 4 anos, similar ao observado nos pacientes que não foram submetidos a cirurgia.
Na análise multivariada a mortalidade se associou a insuficiência mitral residual moderada/severa, idade, escore de risco cirúrgico, fração de ejeção, fibrilação atrial, classe funcional, diâmetros de ventrículo esquerdo, diâmetro de átrio esquerdo e pressão da artéria pulmonar.
Conclusão
Em pacientes idosos com insuficiência mitral degenerativa sintomática e alto risco para a cirurgia, a estratégia percutânea borda a borda se associou a uma melhor sobrevida em comparação com o grupo que não foi submetido a cirurgia. O sucesso no controle da regurgitação foi a chave para a melhora da sobrevida, que deveria ser levada em conta naqueles pacientes considerados inoperáveis.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Association of transcatheter edge-to-edge repair with improved survival in older patients with severe, symptomatic degenerative mitral regurgitation.
Referência: Giovanni Benfar, et al. European Heart Journal (2022) 43, 1626–1635.
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