A não aderência à medicação nos pacientes com síndrome coronariana aguda é ainda uma questão não resolvida, já havendo sido formulado desde o uso de policomprimidos até um acompanhamento mais próximo dos pacientes (contato telefônico e grupos de motivação). Os guias de antiagregação recomendam dupla antiagregação plaquetária (DAPT) por pelo menos um ano após um eventos de síndrome coronariana aguda (SCA).
A aderência à medicação está composta de múltiplas fases, que incluem a iniciação adequada, a implementação correta e concisa e a continuidade do uso da medicação durante o tempo indicado.
O objetivo deste trabalho foi avaliar os distintos tipos de aderência a inibidores P2Y12 entre pacientes com SCA tratados com angioplastia (PCI). Como objetivo secundário analisou-se a frequência e fatores de risco e sua relação com eventos cardiovasculares (MACE).
Os dados de pacientes submetidos a PCI por uma SCA foram obtidos de um registro da cidade de Alberta, no Canadá, desde abril de 2012 até março de 2016. O desfecho primário foi a aderência a inibidores P2Y12 em pacientes ambulatoriais através de um índice de proporção de dias cobertos de medicação em 12 meses.
Os pacientes foram estratificados em 5 grupos de aderência, sendo o grupo 1 o de não aderência precoce, o grupo 2 o de abandono rápido, o grupo 3 o de iniciação tardia, o grupo 4 o de abandono gradual e o grupo 5 o de aderência persistente.
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Obtiveram-se dados de 12.844 pacientes, com idade média de 62 anos, sendo 24,6% da população composta por mulheres, 45,6% de SCA com elevação de ST e 62,1% tratados com stents eluidores de fármacos (DES). 11% foram classificados no grupo 1 (não iniciaram o tratamento ou o suspenderam muito prontamente), 7,7% no grupo 2 (descontinuaram o uso do medicamento em 3 meses), 6% no grupo 3 (pobre início de medicação que foi abandonada no seguimento), 20,5% no grupo 4 (boa aderência e depois decaiu) e 54,8% grupo 5 (aderência persistente).
Na análise multivariada que comparou o grupo 1 com o 5 não houve diferenças significativas no risco de MACE (HR 1,10, IC 95% 0,86-1,40). No entanto, ao avaliar o subgrupo dos pacientes tratados com DES, a diferença é significativa (HR 2,44, IC 95% 1,60-3,71). Tanto o grupo 2 (HR 1,23, IC 95% 1,01-1,49) quanto no grupo 3 (HR 1,41, IC 95% 1,12-1,78) se associaram a maior risco de MACE independentemente do stent usado. Com relação ao sangramento maior, tanto o grupo 1 (HR 1,50, IC 95% 1,12-2,02) quanto o grupo 2 (HR 1,40, IC 95% 1,09-1,79) se associaram a riscos maiores quando comparados com o grupo 5.
Conclusões
A identificação de parâmetros de aderência na população com SCA permitiria estimar os pacientes com maior risco de MACE. Na coorte aqui avaliada evidenciou-se somente 50% de pacientes com aderência persistente e constatou-se que o grupo de pacientes que abandona rapidamente o tratamento e aqueles que começam a tomar o medicamento tardiamente são os mais prejudicados com relação ao risco de eventos cardiovasculares.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: P2Y12 inhibitor adherence trajectories in patients with acute coronary syndrome undergoing percutaneous coronary intervention: prognostic implications.
Fonte: Ricky D Turgeon, Sheri L Koshman, Yuan Dong, Michelle M Graham, P2Y12 inhibitor adherence trajectories in patients with acute coronary syndrome undergoing percutaneous coronary intervention: prognostic implications, European Heart Journal, Volume 43, Issue 24, 21 June 2022, Pages 2303–2313, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehac116.
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