Estenose aórtica não tratada: mortalidade associada e um puxão de orelha

A progressão da estenose aórtica foi amplamente estudada e já é bem conhecida de todos nós. Sabe-se que em seus estágios avançados, traz consigo uma elevada morbidade e uma marcada diminuição na sobrevida.  Tanto os guias norte-americanos como os europeus recomendam o tratamento quando a valvopatia é severa. No entanto, a verdadeira severidade pode ser difícil de determinar devido à obtenção de dados discordantes, como a velocidade pico não coincidente com a área valvar. 

Estenosis aórtica no tratada: mortalidad asociada y un llamado de atención

A subestimação da severidade leva a um tratamento incompleto, piorando o prognóstico. A partir de tal premissa, o grupo liderado por Généreux et al. se propôs a avaliar a mortalidade em todo o espectro da estenose aórtica não tratada em uma coorte contemporânea. 

A população estudada foi compilada a partir de 1.669.536 ecocardiogramas correspondentes a uma base de dados de 1.085.850 pacientes. A presença de estenose aórtica foi classificada conforme sua severidade em nenhuma, leve, leve a moderada, moderada a severa e severa. Os eventos foram avaliados em 4 anos, com a mortalidade por todas as causas relacionadas com a estenose aórtica definida como desfecho primário do estudo. O desfecho secundário foi o tempo até o tratamento com substituição valvar (AVR).

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Um total de 595.120 pacientes cumpriu com os critérios de elegibilidade, com um tempo médio a partir do diagnóstico até o tratamento, o último seguimento ou a mortalidade de 421 dias. Do total de pacientes, 11,9% apresentaram algum grau de estenose aórtica, ao passo que 81,1% deles não mostraram evidência de dita doença. Entre os pacientes com estenose aórtica, 86,6% foram classificados como leve, moderado ou severo, ao passo que 13,4% foram classificados como leve a moderado ou moderado a severo. 

Em termos gerais, os pacientes em estágios mais severos apresentavam uma maior morbidade, eram de maior idade e tinham uma maior probabilidade de ter valvopatias concomitantes, como insuficiência tricúspide ou mitral. Observou-se algum grau de discordância na severidade em 22,8% dos casos moderados e em 59,8% dos casos moderados a severos. 

A estimativa de mortalidade por todas as causas não tratada em 4 anos associada com o diagnóstico de estenose aórtica de nenhuma a leve, leve a moderada, moderada, moderada a severa ou severa foi de 13,5% (IC de 95%: 13,3%-13,7%), 25,0% (IC de 95%: 23,8%-26,1%), 29,7% (IC de 95%: 26,8%-32,5%), 33,5% (IC de 95%: 31,0%-35,8%), 45,7% (IC de 95%: 37,4%-52,8%) e 44,9% (IC de 95%: 39,9%-49,6%), respectivamente. O índice de tratamento com AVR foi de 1% nos casos leves e de 60,7% nos casos severos.

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A análise segundo o “modelo de riscos” demonstrou uma tendência de aumento na mortalidade com cada incremento na severidade da estenose aórtica. Depois do ajuste, todos os graus de severidade da estenose aórtica se associaram com um maior risco de mortalidade não tratada. 

Conclusões

Os diagnósticos de severidade intermediária (leve a moderada ou moderada a grave) são frequentes na prática diária conforme esta coorte analisada e se associam com uma mortalidade similar ao seguinte grau mais grave de estenose aórtica. Chama a atenção a magnitude de subtratamento da estenose aórtica severa, observando-se a realização de AVR em somente 60% dos pacientes até 4 anos depois do diagnóstico inicial. O risco de mortalidade com a estenose aórtica aumentou gradualmente em todo o espectro de gravidade da doença, o que evidencia a importância de um acompanhamento rigoroso e de uma intervenção precoce. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: The Mortality Burden of Untreated Aortic Stenosis.

Referência: Généreux P, Sharma RP, Cubeddu RJ, Aaron L, Abdelfattah OM, Koulogiannis KP, Marcoff L, Naguib M, Kapadia SR, Makkar RR, Thourani VH, van Boxtel BS, Cohen DJ, Dobbles M, Barnhart GR, Kwon M, Pibarot P, Leon MB, Gillam LD. The Mortality Burden of Untreated Aortic Stenosis. J Am Coll Cardiol. 2023 Oct 20:S0735-1097(23)07504-6. doi: 10.1016/j.jacc.2023.09.796. Epub ahead of print. PMID: 37877909.


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