Jejum pré-cateterismo

De forma geral está estabelecido que os procedimentos coronarianos com anestesia local e sedação moderada requerem um jejum mínimo de 6 horas para sólidos e de 2 horas para líquidos (conforme as diretrizes SCAI 2021). No entanto, as complicações com necessidade de intubação orotraqueal de emergência são muito raras. 

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O jejum prolongado pode ter efeitos adversos, como a hipoglicemia, a resistências à insulina, a falha renal aguda por desidratação e o mal-estar. Além disso, está associado a uma maior incidência de reações vagais. 

O objetivo do estudo TONIC (Comparison Between Fasting and No Fasting Before Interventional Coronary Intervention on the Occurrence of Adverse Events) foi demonstrar a não inferioridade da estratégia sem jejum em pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea no que se refere a eventos de segurança. O estudo foi prospectivo, randomizado 1:1, de não inferioridade, feito no hospital Henri Mondor de Creteil, França. 

Foram incluídos pacientes programados para procedimentos coronarianos eletivos o semiurgentes. Excluíram-se aqueles com instabilidade hemodinâmica, emergência, gravidez, lactação e os que foram submetidos a outra intervenção simultânea (por exemplo, TAVI). A via de acesso utilizada foi a radial com anestesia local (lidocaína a 1%), vasodilatadores intra-arteriais e heparina não fracionada, utilizando-se contraste isosmolar.

Os pacientes do grupo de jejum deviam se abster de sólidos e líquidos por pelo menos 6 horas, ao passo que os do grupo sem jejum podiam comer e beber segundo a dieta padrão do hospital. 

Leia Também: A reserva de resistência microvascular e seu impacto em pacientes com IAMCEST.

O desfecho primário (DP) foi a combinação de reação vasovagal, hipoglicemia, e náuseas/vômitos pós-procedimento. Os desfechos secundários incluíram injúria renal aguda, pneumonia aspirativa e satisfação do paciente.

Foram incluídos 755 pacientes, randomizados no grupo de jejum (n = 379) e no grupo sem jejum (n = 376). A idade média foi de 68 anos, 75% eram homens, 50% eram tabagistas ou ex-tabagistas e 29% eram diabéticos. A maioria dos procedimentos foram eletivos (94%), principalmente por síndrome coronariana crônica. Em 30% dos casos foi feita uma angioplastia e em 8% dos procedimentos optou-se pelo acesso femoral. Durante o procedimento, administrou-se sedação consciente em 21% dos pacientes, principalmente com midazolam. O tempo médio de jejum foi de 15 horas no grupo de jejum e de 3 horas no grupo sem jejum. 

O DP ocorreu em 8,2% dos pacientes do grupo sem jejum e em 9,9% do grupo com jejum (diferença absoluta de -1,7%, sem superar o limite pré-estabelecido de não inferioridade). Os resultados foram consistentes na análise por protocolo (diferença absoluta de -2,1%). Além disso, não houve diferenças significativas nos componentes individuais. A reação vasovagal foi mais frequente no grupo de jejum (5,4% vs. 2,7%). 

Leia Também: TAVI vs. cirurgia em pacientes de baixo risco. Resultados de 10 anos do estudo NOTION.

Não houve diferenças em termos de injúria renal, pneumonia aspirativa ou eventos relacionados com a ingestão de alimentos. No tocante à satisfação do paciente, os incluídos no grupo sem jejum mostraram um índice satisfação mais elevado e, caso tivessem que ser submetidos a novo procedimento, prefeririam não jejuar. 

Conclusões

O TONIC, um estudo randomizado e prospectivo, demonstrou que a estratégia sem jejum é segura e se associa a uma maior sensação de bem-estar em pacientes submetidos a procedimentos coronarianos eletivos ou semiurgentes.  

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: A Randomized Controlled Trial of Nonfasting vs Fasting Before Interventional Coronary Procedures: The TONIC Trial.

Referência: Boukantar, M, Chiaroni, P, Gallet, R. et al. A Randomized Controlled Trial of Nonfasting vs Fasting Before Interventional Coronary Procedures: The TONIC Trial. J Am Coll Cardiol Intv. 2024 May, 17 (10) 1200–1210. https://doi.org/10.1016/j.jcin.2024.03.033.


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