ROUTE TRAIL: DKCRUSH vs. DKRUSH Culotte em bifurcações que não são do TCE

As lesões em bifurcações coronarianas representam um desafio técnico frequente, constituindo entre 15% e 20% dos casos. Embora a técnica de stent provisional seja a mais empregada, em bifurcações complexas são preferidas as estratégias de duplo stent, como o Double-Kissing Crush (DKCR) e o Double-Kissing Culotte (DKCU). Embora ambas as técnicas contem com o respaldo dos guias, são necessários estudos comparativos diretos neste contexto específico. 

O estudo ROUTE (Revascularization of Nonleft Main Bifurcation Through Double Kissing Crush or Double Kissing Culotte), de desenho convencional e prospectivo, comparou os resultados clínicos entre DKCR e DKCU em lesões de bifurcações coronarianas que não envolviam o tronco da coronária esquerda. Em total, foram incluídos 202 pacientes: 101 tratados com DKCR e 101 com DKCU. 

O desfecho primário (DP) foi a falha da lesão alvo (TLF, por suas siglas em inglês), definida como a combinação de revascularização da lesão alvo (TLR), infarto agudo do miocárdio do vaso alvo (TVMI) e morte cardíaca, avaliados em 12 meses de seguimento. 

Características dos pacientes e procedimentos

Os grupos mostraram características basais similares: idade média de 64 anos, predomínio de homens, hipertensão arterial em 72% dos casos, diabetes em 39%, dislipidemia em 69%, antecedentes de angioplastia coronariana (ATC) em 20% e infarto agudo do miocárdio (IAM) em 18%. A causa da ATC foi mais frequente nas síndromes coronarianas estáveis (54%), com uma fração de ejeção média de 55%. 

Leia também: TENDERA: Comparação de oclusão radial entre acesso distal e convencional para intervenções coronarianas

No tocante às bifurcações, não houve diferenças significativas em sua classificação: a mais frequente foi a 1.1.1 (60%), seguida da 0.1.1 e, em menor medida, da 1.0.1. Tampouco foram observadas diferenças nos diâmetros, nos comprimentos do vaso principal e secundário nem no grau de obstrução. 

Noventa e nove por cento dos procedimentos foram realizados mediante acesso femoral. Não houve diferenças no uso de pré-dilatação, pós-dilatação, técnica POT (proximal optimization technique) nem nos diâmetros e comprimentos dos stents empregados no vaso principal e no secundário. Após o procedimento, todos os pacientes receberam dupla antiagregação plaquetária sem diferenças no que se refere aos fármacos utilizados. 

Leia também: Estenose aórtica assintomática: uma decisão complexa.

O DP favoreceu o DKCU, com uma menor incidência de TLF (3% vs. 10,8%; p = 0,028). Também foram observados melhores resultados no TLR (3% vs. 9,9%; p = 0,045). No entanto, não foram constatadas diferenças significativas em termos de TVMI (2% vs. 3%; p = 0,651), morte cardíaca (0% vs. 1%; p = 0,315) nem de trombose do stent. 

Conclusão

Nesta análise, o DK Culotte se associou a uma menor incidência de TLF em um ano em comparação com o KD Crush em bifurcações coronarianas que não comprometiam o tronco da coronária esquerda. 

Título Original: Clinical Outcomes of Double-Kissing Crush or Double-Kissing Culotte in Nonleft Main Bifurcation Lesions: The ROUTE Trial.

Referência: Serkan Kahraman et al. CirculationCirc Cardiovasc Interv. 2024;17:e014616. DOI: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.124.014616.


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Dr. Carlos Fava
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