Complexidade do procedimento influi para decidir duração da DAPT

dupla antiagregação plaquetária

Muitas das especulações sobre como individualizar o tempo de dupla antiagregação plaquetária (DAPT) após a angioplastia coronária se enfocaram em parâmetros clínicos (diabetes, por exemplo). Contudo, um novo estudo publicado no JACC e apresentado no último congresso da ESC averte sobre os fatores anatômicos como preditores de eventos que poderiam ajudar a determinar o tempo da dupla antiagregação plaquetária.

 

Em princípios de 2016, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA) publicaram uma atualização dos guias enfocados no tempo de DAPT baseando-se no estudo DAPT e no PEGUSUS TIMI 54. Estes guias basicamente diminuíram o tempo da dupla antiagregação plaquetária de 12 meses para 6 meses na parte dos casos, embora tenha advertido sobre a necessidade do julgamento clínico para:

  • Prolongar a indicação para além de um ano no caso dos pacientes com maior risco de eventos isquêmicos.
  • Diminuir o tratamento a menos de 6 meses para aqueles com maior risco de sangramento.

 

Também foi introduzido recentemente o score DAPT, que leva em consideração a idade, diabetes, tabagismo, angioplastia prévia, infarto prévio, insuficiência cardíaca, angioplastia primária, angioplastia em pontes venosas e o diâmetro do stent para escolher os pacientes que deveriam receber DAPT por mais tempo.

 

Os critérios deste novo trabalho para selecionar pacientes para um tratamento curto (3 a 6 meses) ou prolongado (um ano ou mais) são completamente diferentes dos utilizados até agora.

 

Foram estratificados 9.577 pacientes de acordo com o fato de a angioplastia ter sido complexa ou simples e com os critérios enumerados abaixo:

  • Se foram tratados 3 vasos.
  • Se foram implantados pelo menos 3 stents.
  • Se houve pelo menos 3 lesões tratadas.
  • Se houve bifurcação com 2 stents.
  • Se o comprimento total coberto era > 60 mm ou se a lesão era uma oclusão total crônica.

 

Globalmente os pacientes submetidos a procedimentos mais complexos apresentaram quase o dobro de eventos combinados que aqueles com procedimentos mais simples, o que é uma obviedade.

 

A novidade foi que os pacientes com angioplastia complexa que receberam dupla antiagregação plaquetária prolongada apresentaram uma significativa redução de eventos quando comparados com os pacientes com antiagregação plaquetária curta (HR 0,56; IC 95% 0,35-0,89) o que não é verdade no caso dos pacientes com angioplastia simples, nos quais a duração do tratamento não mostrou diferenças significativas (HR 1,01; IC 95% 0,75-1,35; p para interação = 0.01).

 

Quanto maior a complexidade do procedimento, maior o benefício de prolongar o tempo de DAPT, mas também maior o risco de sangramento. O sangramento especificamente não teve relação com a complexidade do procedimento.

 

Conclusão

Juntamente com outros fatores de risco clínicos estabelecidos, a complexidade do procedimento é um parâmetro importante a levar em consideração para decidir o tempo de dupla antiagregação plaquetária.

 

Título original: Efficacy and safety of dual antiplatelet therapy after complex PCI.

Referência: Giustino G et al. J Am Coll Cardiol. 2016;Epub ahead of print.

 

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Perviedade radial em procedimentos coronarianos: a heparina é suficiente ou deveríamos buscar a radial distal?

O acesso radial é a via de escolha na maioria dos procedimentos coronarianos devido à redução nas taxas de mortalidade demonstradas em comparação com...

SMART-CHOICE 3 | Eficácia e segurança da monoterapia com clopidogrel vs. aspirina em pacientes com alto risco após uma intervenção coronariana percutânea

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. Ao finalizar a duração padrão da terapia antiplaquetária dual (DAPT) posterior a uma intervenção coronariana percutânea (PCI), a estratégia...

Revascularização coronariana guiada por iFR vs. FFR: resultados clínicos em seguimento de 5 anos

A avaliação das estenoses coronarianas mediante fisiologia coronariana se consolidou como uma ferramenta crucial para guiar a revascularização. As duas técnicas mais empregadas são...

ACC 2025 | WARRIOR: isquemia em mulheres com doença coronariana não obstrutiva

Aproximadamente a metade das mulheres sintomáticas por isquemia que se submetem a uma coronariografia apresentam doença coronariana não significativa (INOCA), o que se associa...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Perviedade radial em procedimentos coronarianos: a heparina é suficiente ou deveríamos buscar a radial distal?

O acesso radial é a via de escolha na maioria dos procedimentos coronarianos devido à redução nas taxas de mortalidade demonstradas em comparação com...

SMART-CHOICE 3 | Eficácia e segurança da monoterapia com clopidogrel vs. aspirina em pacientes com alto risco após uma intervenção coronariana percutânea

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. Ao finalizar a duração padrão da terapia antiplaquetária dual (DAPT) posterior a uma intervenção coronariana percutânea (PCI), a estratégia...

Como se inscrever para a Bolsa SOLACI Research 2025? Vídeo com explicação passo a passo

Você já pode rever o evento virtual realizado no dia 09/04, no qual revisamos detalhadamente as etapas para se inscrever na Bolsa de Pesquisa...