Revascularização com DES em doença infrapoplítea: metanálise e mudança de paradigma?

A doença vascular periférica (DVP) foi subestudada e pouco reconhecida na comparação com a cardiopatia isquêmica e o AVC, apesar do impacto conhecido que tem sobre a qualidade de vida e também apesar da morbimortalidade associada. Estima-se que, em 2015, segundo uma revisão sistemática, aproximadamente 238 milhões de pessoas tinham DVP em todo o mundo, cifras, aliás, que se encontram em aumento. 

Más stents suman evidencia al esquema corto y nos acercamos al “efecto de clase”

O tratamento percutâneo do território infrapoplíteo demonstrou benefícios. Porém, ainda não se sabe qual é a melhor alternativa (angioplastia com balão, balão com fármaco ou colocação de stent convencional/eluidor de fármacos), motivo pelo qual atualmente há uma busca constante por meio de pesquisas que se encontram em andamento. 

O objetivo deste trabalho, recentemente publicado no Journal of the Society for Cardiovascular Angiography & Interventions, foi realizar uma revisão sistemática e metanálise de estudos randomizados para avaliar a eficácia e segurança do uso de stent eluidor do fármacos (DES) (Everolimus/Sirolimus/Paclitaxel) comparando-se com um grupo controle de revascularização endovascular (POBA, DCB, Stent), para doença infrapoplítea. O desfecho primário (DP) foi perviedade primária e a secundária (DS) foi revascularização do vaso responsável (TLR), amputação do membro e mortalidade por todas as causas. 

Foram incluídos 9 estudos randomizados, todos publicados desde o ano 2007, com um total de 945 pacientes, com uma faixa etária de entre 68 e 75 anos, população majoritariamente masculina, prevalência de diabetes de 50 a 82%. Fez-se um seguimento máximo de 48 meses (mínimo 6 meses) e, em geral, o método para avaliar a perviedade foi a angiografia invasiva. 

Leia também: TAVI: se não for femoral, devemos pensar no acesso transcaval.

Os pacientes tratados com DES evidenciaram um aumento significativo da perviedade primária em comparação com o grupo controle (HR 2,58, IC 95% 1,49-4,49; P = 0,0008). Ao analisar os desfechos secundários evidenciou-se uma diminuição significativa da TLR (HR 0,48, IC 95% 0,33-0,68; p < 0,0001), sem que se observasse diferenças significativas em termos de amputação maiores (HR 0,87, IC 95% 0,56-1,36; p = 0,28) ou de mortalidade por todas as causas (HR 0,64, IC 95% 0,40-1,04; p = 0,95).

Conclusões

Os resultados desta metanálise mostraram melhor perviedade primária e menor TLR naqueles pacientes submetidos a angioplastia infrapoplítea com DES em comparação com revascularização convencional. Dito benefício a favor do uso de DES é um efeito similar ao observado previamente na patologia coronariana.  

Anteriormente, falar sobre revascularização com stent só estava reservado como estratégia bailout pós-angioplastia com balão. Esta revisão sistemática conta com algumas limitações ao observar-se heterogeneidade nos estudos incluídos e um escasso número de pacientes. A partir do mostrado com estes resultados, deveríamos considerar se a evidência é a suficiente para considerar uma mudança no paradigma da revascularização do território infrapoplíteo?

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Drug-Eluting Stents Versus Conventional Endovascular Therapies in Symptomatic Infrapopliteal Peripheral Artery Disease: A Meta-analysis.

Fonte: Changal, Khalid et al. Drug-Eluting Stents Versus Conventional Endovascular Therapies in Symptomatic Infrapopliteal Peripheral Artery Disease: A Meta-analysis. Journal of the Society for Cardiovascular Angiography & Interventions, Volume 1, Issue 2, 100024. https://doi.org/10.1016/j.jscai.2022.100024.


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