Dupla antiagregação plaquetária após colocação de um stent eluidor de everolimus

Título original: Benefits and Risks of Extended Dual Antiplatelet Therapy after Everolimus-Eluting Stents. For the Dual Antiplatelet Therapy (DAPT) Study Investigators. Referência: James B. Hermiller et al. JACC: Cardiovascular Interventions 2015, online before print.

No estudo DAPT observou-se que manter por mais de um ano a aspirina mais uma tienopiridina reduz os eventos isquêmicos. Dada a muito baixa taxa de trombose e infarto agudo do miocárdio com os stents farmacológicos (DES) atuais, no presente subestudo do DAPT foram examinados os resultados especificamente dos pacientes que tinham recebido um stent eluidor de everolimus.

O estudo DAPT recrutou 25.682 pacientes (11.308 tratados com stents eluidores de everolimus). Depois de 12 meses de tratamento com aspirina e uma tienopiridina, os pacientes elegíveis (9.961, dos quais 4.703 com stents eluidores de everolimus) foram randomizados a aspirina mais placebo ou aspirina mais tienopiridina por 18 meses mais. O tipo de stent ficou a critério do operador, motivo pelo qual a subanálise é um estudo post hoc.

Nos pacientes que receberam stents eluidores de everolimus, manter a dupla antiagregação por mais de um ano reduziu a taxa de trombose (0,3% vs. 0,7%, HR 0,38, IC 95% 0,15-0,97; p = 0,04) e de infarto agudo do miocárdio (2,1% vs. 3,2%, HR 0,63, IC 95% 0,44 – 0,91; p = 0,01) comparado com o placebo, mas não reduziu o desfecho combinado de morte, infarto ou AVC (4,3% vs. 4,5%, HR 0,89, IC 95% 0,67-1,18; p = 0,42).

A dupla antiagregação prolongada aumentou os sangramentos moderados/severos (2,5% vs. 1,3%, HR 1,79, IC 95% 1,15 – 2,80; p = 0,01) e a morte por qualquer causa (2,2% vs. 1,1%, HR 1,80, IC 95% 1,11 – 2,92, p = 0,02).

Conclusão
Em pacientes que receberam angioplastia com stents eluidores de everolimus, manter por mais de um ano a dupla antiagregação diminui significativamente a trombose intrastent e os infartos, mas aumenta os sangramentos em comparação com a administração de somente aspirina.

Comentário editorial
O tipo de stent a implantar não foi pré-especificado no protocolo, motivo pelo qual as observações devem ser interpretadas com precaução.

O aumento da mortalidade por qualquer causa no grupo que recebeu stent eluidor de everolimus e continuou com a dupla antiagregação por mais de um ano se relacionou majoritariamente com mortes não cardíacas por câncer (muitos deles diagnosticados previamente) e não, como era esperável, com maiores taxas de sangramento. Chama a atenção o fato de que no grupo que recebeu stents convencionais e continuou com dupla antiagregação por mais de um ano não se tenha observado este fenômeno de maior mortalidade ocasionada por câncer, o que leva a suspeitar que o efeito tenha a ver com sorte ou azar.

O número necessário a tratar (NNT) com dupla antiagregação prolongada para evitar uma trombose de stent é de 235 e para evitar um infarto é de 98. Por outro lado, o NNT para produzir um sangramento moderado a severo é de 84.
Estes números deixam claro que o tempo de dupla antiagregação deve ser decidido de forma individual com cada paciente.

Mais artigos deste autor

Tratamento antiplaquetário dual em pacientes diabéticos com IAM: estratégia de desescalada

A diabetes mellitus (DM) é uma comorbidade frequente em pacientes hospitalizados por síndrome coronariana aguda (SCA), cuja prevalência aumentou na última década e se...

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Impacto da pós-dilatação com balão na durabilidade a longo prazo das biopróteses após o TAVI

A pós-dilatação com balão (BPD) durante o implante percutâneo da válvula aórtica (TAVI) permite otimizar a expansão da prótese e reduzir a insuficiência aórtica...

TAVI em insuficiência aórtica nativa pura: são realmente superiores os dispositivos dedicados?

Esta metanálise sistemática avaliou a eficácia e a segurança do implante percutâneo da valva aórtica em pacientes com insuficiência aórtica nativa pura. O desenvolvimento...

Tratamento antiplaquetário dual em pacientes diabéticos com IAM: estratégia de desescalada

A diabetes mellitus (DM) é uma comorbidade frequente em pacientes hospitalizados por síndrome coronariana aguda (SCA), cuja prevalência aumentou na última década e se...