O FFR/iFR de rotina reclassifica a estratégia de tratamento em quase a metade dos casos

Realizar uma avaliação funcional invasiva como procedimento de rotina no momento da cinecoronariografia reclassifica a estratégia de tratamento em uma grande proporção de pacientes com lesão de 2 ou 3 vasos, segundo revelou o estudo multicêntrico e prospectivo DEFINE REAL, publicado recentemente no JACC Cardiovascular Interventions.

El FFR/iFR rutinario reclasifica la estrategia de tratamiento en casi la mitad de los casos

A informação obtida com a medição do fluxo fracionado de reserva (FFR) ou com o índice instantâneo no período livre de ondas (iFR) levou os intervencionistas a modificarem seus planos originais em 45% dos casos. Esta reclassificação se fez mais notória à medida que mais vasos iam sendo avaliados, chegando ao incrível número de 66,7% para os casos nos quais se media funcionalmente os 3 vasos epicárdicos. 


Leia também: DEFINE FLAIR e IFR SWEDEHEART: segurança da revascularização com base no FFR e no IFR tanto em pacientes estáveis quanto em SCA.


Estes achados agora publicados no JACC foram originalmente apresentados no EuroPCR e são consistentes com outros estudos prévios (R3F, RIPCORD, POST-IT), embora estes últimos tenham incluído predominantemente pacientes com lesão de um vaso. O DEFINE REAL é o primeiro estudo funcional invasivo que fez foco em pacientes com doença de múltiplos vasos.

 

A mensagem parece clara e ao mesmo tempo desafiante: a avaliação funcional de todos os vasos é imprescindível inclusive em pacientes com testes evocadores de isquemias não invasivas prévias ao cateterismo. Além disso, aparece um interrogante: a mudança de estratégia gera uma mudança de prognóstico?

 

O DEFINE REAL foi realizado em 18 centros de 9 países e incluiu 484 pacientes que foram submetidos a uma angiografia diagnóstica e apresentavam doença de múltiplos vasos (73,3% apresentavam doença de 2 vasos e 26,7% apresentavam doença de 3 vasos).


Leia também: O que ocorre a longo prazo com as lesões que diferimos usando FFR/iFR?


Os pesquisadores selecionavam uma estratégia inicial com base na angiografia e na clínica e depois era considerada a mudança de estratégia com a avaliação funcional, que foi um terço com iFR e o resto com FFR.

 

As mudanças de planos guiadas pelo FFR/iFR incrementaram o uso de somente tratamento médico e de cirurgia de revascularização miocárdica e reduziram modestamente o uso de angioplastia.

 

O uso de iFR se associou a menos sintomas para os pacientes com a conseguinte possibilidade de avaliar mais vasos e uma taxa de reclassificação mais alta que com o FFR (57,5% vs. 39,9%).


Leia também: Pacientes que não seguem nosso conselho e inesperadamente têm menos eventos.


Este trabalho não oferece nenhuma informação sobre resultados clínicos, o que é uma dívida pendente que vários estudos em curso saldarão no futuro. Por enquanto, o melhor que temos são os dados do SYNTAX II publicados no ano passado, que mostraram que a avaliação funcional tinha muito bons resultados.

 

Título original: Impact of routine invasive physiology at time of angiography in patients with multivessel coronary artery disease on reclassification of revascularization strategy: results from the DEFINE REAL study.

Referência: Van Belle E et al. J Am Coll Cardiol Intv. 2018;11:354-365.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

CALIPSO: lesões calcificadas e o uso de OCT

A angioplastia coronariana (PCI) em lesões calcificadas continua sendo um dos cenários mais desafiadores da prática diária, já que ditas lesões predispõem a uma...

Análise retrospectiva de DCB vs. DES no tratamento do ramo lateral

As bifurcações coronarianas constituem um dos cenários mais desafiadores da angioplastia coronariana (PCI) por motivos que se relacionam com sua complexidade anatômica, com o...

TCT 2025 | TUXEDO-2: Struts ultrafinos versus Xience em pacientes diabéticos com doença multivascular

É bem conhecido que pacientes diabéticos submetidos à intervenção coronariana percutânea (ICP) apresentam doença coronariana mais extensa, com comprometimento multivascular e lesões complexas. Essa...

TCT 2025 | INVEST-CTO: Eficácia e segurança de uma estratégia planejada de intervenção em CTO de alto risco

A taxa de sucesso da intervenção coronariana percutânea (ICP) no tratamento de oclusões coronarianas totais crônicas (CTO) continua inferior à observada em lesões não...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Hipertrigliceridemia como fator-chave no desenvolvimento do aneurisma de aorta abdominal: evidência genética e experimental

O aneurisma de aorta abdominal (AAA) é uma patologia vascular de alta mortalidade, sem opções farmacológicas efetivas e com um risco de ruptura que...

CALIPSO: lesões calcificadas e o uso de OCT

A angioplastia coronariana (PCI) em lesões calcificadas continua sendo um dos cenários mais desafiadores da prática diária, já que ditas lesões predispõem a uma...

Fibrilação Atrial e Doença Renal Crônica: Resultados de Diferentes Estratégias de Prevenção de Acidente Vascular Cerebral

A fibrilação atrial (FA) afeta aproximadamente 1 em cada 4 pacientes com doença renal terminal (DRT). Essa população apresenta uma alta carga de comorbidades...