FFR para predizer o resultado das pontes: puro benefício em uma população demasiadamente pura?

As pontes coronarianas anastomosadas a um vaso com FFR (fluxo fracionado de reserva) normal ou quase normal têm menor perviedade após um ano em comparação com as pontes anastomosadas a vasos com lesões funcionalmente significativas demonstradas por FFR.

FFR para guiar la revascularización en SCA

No entanto, o recente estudo FARGO (Fractional Flow Reserve Versus Angiography Randomization for Graft Optimization) não mostrou diferenças em termos de perviedade em 100 pacientes incluídos (14,5% vs. 14,3%; p = 0,97). Esse trabalho, somado à escassa evidência disponível, mostrou a possibilidade de que o FFR não tenha realmente um papel importante nos pacientes que são submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica além da intuição fisiopatológica que qualquer um de nós pode ter.

Agora foi publicado on-line – antes da publicação em formato impresso – no European Heart Journal o estudo IMPAG (Impact of Preoperative FFR on Arterial Bypass Graft Anastomotic Function) que sugere que as medições pré-operatórias de FFR se associam claramente à perviedade das pontes após 6 meses de uma revascularização em todas as pontes arteriais. Os autores examinaram 199 lesões em 67 pacientes com uma média de FFR de 0,73 nos vasos alvo.


Leia também: Coração e cérebro: fatores de risco, fibrilação atrial e demência.


O protocolo incluía uma angiografia aos 6 meses de maneira cega onde se atribuía 0 para as pontes ocluídas, 1 quando o fluxo era predominantemente pela artéria nativa, 2 quando o fluxo era balanceado e 3 quando a artéria nativa só era observável pela ponte.

Os escores de 0 a 2 foram considerados não funcionais e 3 foi considerado funcional.

Em 6 meses, 49 das 199 pontes foram consideradas não funcionais (24%), dentre as quais 50% estavam diretamente ocluídas. O FFR pré-operatório se associou significativamente à função das pontes após 6 meses para todos os dutos e todos os vasos alvo (p < 0,001).

O melhor corte de FFR para predizer isso foi ≤ 0,78 e não o clássico 0,8.


Leia também: Angioplastia e necessidade de anticoagulação: qual a melhor estratégia?


Ninguém ficou surpreendido com o fato de a medição do FFR e da porcentagem de estenose por angiografia terem uma pobre correlação. Essa é a razão pela qual o estudo conclui que é o FFR e não o diâmetro de estenose angiográfica que prediz a perviedade das pontes.

Esse dado demonstra a já conhecida limitação da angiografia, embora na prática clínica cotidiana sejam feitas pontes em todas as lesões com uma obstrução angiográfica > 50%.

O estudo tem algumas limitações, como o escasso número de pacientes, o curto período de seguimento (6 meses) e o fato de as pontes terem sido arteriais (este último detalhe está algo distante da clínica diária).

Em estudos prévios o mesmo autor mostrou que a pressão distal em uma ponte venosa é quase igual à aórtica (0,4 mmHg de diferença), o que minimiza o risco de concorrência. Apesar disso, as pontes venosas são mais tendentes à oclusão que as arteriais.


Leia também: A FDA faz uma nova atualização sobre os dispositivos com paclitaxel.


As pontes arteriais, ao contrário, mostram uma maior queda de pressão com relação à aorta (1-3 mmHg em repouso e até 9 mmHg em hiperemia), o que as torna mais suscetíveis à concorrência crônica de fluxo. Isso poderia explicar por que as pontes arteriais se beneficiam mais da medição de fluxo pré-operatória.

Título original: Impact of preoperative fractional flow reserve on arterial bypass graft anastomotic function: the IMPAG trial.

Referência: David Glineur et al. European Heart Journal (2019) 0, 1–9.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...