Diferenças em MINOCA e MIOCA de acordo com o sexo.
Diversos guias internacionais recomendam o tratamento invasivo após o diagnóstico de uma síndrome coronariana aguda (SCA). Os primeiros estudos em reportar infarto agudo do miocárdio (IAM) sem doença coronariana epicárdica obstrutiva informavam uma incidência de aproximadamente 10%.
A partir dessa importante prevalência, recomendava-se hierarquizar o diagnóstico como MIMOCA, para os pacientes que cumpriam a quarta definição de infarto de IAM, bem como naqueles cuja angiografia não tivesse evidenciado estenose epicárdica superior a 50%. Por sua vez, ao comparar com o IAM com doença obstrutiva (MIOCA), este último apresentava melhor prognóstico.
Essa doença tem sido, historicamente, relacionada com a mulher, observando-se uma prevalência do sexo feminino de 50% dos MIMOCA, diferentemente da prevalência de 25% em MIOCA. O objetivo deste estudo foi identificar e descrever as diferenças de sexo no diagnóstico, tratamento e eventos a longo prazo em pacientes com MINOCA comparados com MIOCA.
Estudou-se uma coorte de pacientes com SCA com elevação do ST e sem elevação do ST, que foram submetidos a uma coronariografia no Hospital de Freeman, Newcastle, Reino Unido. Posteriormente os pacientes foram classificados em MINOCA e MIOCA, de acordo com os resultados angiográficos. O desfecho primário foi a mortalidade por todas as causas em um ano e no seguimento de longo prazo. Os desfechos secundários foram a primeira readmissão por IAM ou algum evento de insuficiência cardíaca.
Foram incluídos 13.202 pacientes, 68,2% dos quais de sexo masculino, com idade média de 68 anos, e 31,2% de sexo feminino, com uma idade média de 73 anos. O seguimento médio foi de 4,62 anos. Houve 62,9% de pacientes com diagnóstico de SCASEST no grupo MIOCA, 10,9% com diagnóstico de MINOCA e os 89,1% restantes com MIOCA. Os pacientes com diagnóstico de MINOCA tinham menos fatores de risco em comparação com o grupo MIOCA (HTA 38% vs. 59%, p < 0,001; hipercolesterolemia 23% vs. 48%, p < 0,001; diabetes 14% vs. 24%, p < 0,001). Nos pacientes que apresentavam MIOCA observou-se maior carga de morbidade (incluindo DPOC, doença vascular periférica e insuficiência cardíaca).
Ao realizar o estudo invasivo observou-se maior taxa de acesso femoral nas mulheres (15% vs. 9,5%), e ao avaliar a severidade do MIOCA, o sexo feminino se associou a uma maior taxa de choque cardiogênico (2,7% vs. 3,6%, p = 0,012).
Os pacientes com MINOCA tiveram menos complicações intra-hospitalares (2,8% vs. 5,1%, p < 0,05) e relacionadas com o procedimento (0,9% vs. 3%), ao passo que no MIOCA as mulheres apresentaram maior índice de complicações em comparação com os homens (4,1% vs. 2,9%, p < 0,001). O número de readmissões por IAM ou de insuficiência cardíaca em um ano não apresentou diferenças segundo o sexo (tanto em MIOCA quanto em MINOCA).
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Em pacientes com doença obstrutiva, a mortalidade por todas as causas foi significativamente maior em mulheres do que em homens (3,2% vs. 2,1%; p < 0,001), bem como no seguimento da mortalidade pós-hospitalar de um ano (9,2% vs. 6,9%, p < 0,001) e a longo prazo (14,2% vs. 11,2%, p < 0,001). Nos pacientes com MINOCA não houve diferenças significativas em termos de mortalidade segundo o sexo. Os homens com MINOCA tiveram maior risco de mortalidade no seguimento de longo prazo do que os homens com MIOCA (HR 1,52, 95% CI 1,11–2,07, p = 0,009).
As pacientes que receberam alta da internação com tratamento médico ótimo para prevenção secundária tiveram 55% mais de probabilidades de sobrevida em comparação com as mulheres com MIOCA. Por sua vez, as mulheres que apresentavam MIOCA tiveram 50% mais de probabilidades de mortalidade intra-hospitalar em comparação com os homens (OR ajustado 1,50, IC 95% 1,09-2,07, p = 0,014).
Conclusões
Observou-se uma incidência de MINOCA semelhante à relatada nos primeiros estudos (por volta de 10%), com uma casuística similar entre homens e mulheres. Os pacientes com MINOCA apresentavam menos complicações intra-hospitalares, ao passo que a mortalidade não variou em relação à MIOCA. Pôde-se observar, também, uma taxa similar de readmissão por IAM ou IC, sem diferenças segundo o sexo.
Estes resultados deveriam enfatizar que o MINOCA não é uma entidade benigna. As mulheres com MIOCA apresentaram um prognóstico desfavorável em comparação com os homens, observando-se maior mortalidade, motivo pelo qual o seguimento desses pacientes deveria ser mais estrito.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Referência: Michael Lawless, Yolande Appelman, John F Beltrame, Eliano P Navarese, Hanna Ratcovich, Chris Wilkinson, Vijay Kunadian, Sex differences in treatment and outcomes amongst myocardial infarction patients presenting with and without obstructive coronary arteries: a prospective multicentre study, European Heart Journal Open, Volume 3, Issue 2, March 2023, oead033, https://doi.org/10.1093/ehjopen/oead033.
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