As lesões coronarianas calcificadas (LC) representam um dos desafios técnicos mais relevantes na angioplastia coronariana (PCI). Sua presença se associa de maneira direta com uma expansão subótima do stent (ES), o que se associa a piores desfechos clínicos.
A compliance coronariana (ComC) reflete a capacidade do vaso de se expandir ou contrair em resposta a mudanças de pressão aórtica durante o ciclo cardíaco. Esta pode ser quantificada de forma invasiva mediante IVUS, avaliando as variações da área luminal entre sístole e diástole. Seu valor está influenciado por múltiplos fatores, como a carga aterosclerótica, a localização anatômica e a fisiologia coronariana.
A litotripsia intravascular (IVL) surgiu como uma opção eficaz e segura para o tratamento das LC, destacando-se por sua capacidade para induzir fraturas do cálcio profundo. No entanto, a hipótese de que ditas fraturas melhorariam a ComC – já que essa mudança poderia antecipar uma melhor expansão do stent – ainda não está confirmada.
O registro BENELUX-IVL incluiu 49 pacientes consecutivos com LC severamente calcificadas tratados com IVL guiada por IVUS. A ComC foi avaliada antes e depois do procedimento, definida como a mudança sistólica-diastólica da área luminal dividida pela variação correspondente da pressão aórtica (ΔA/ΔP × 100).
O DP foi analisar a mudança da ComC (ΔComC) e sua correlação com a aparição de novas fraturas calcificadas e os índices de ES. Os desfechos secundários incluíram a avaliação da ΔComC como preditor independente de ES, seja em termos de MSA, seja de índice de excentricidade.
A idade média foi de 74 anos, com 22,4% de participação de mulheres. Os parâmetros obtidos por IVUS revelaram uma MSA média de 10,19 ± 0,34 mm², uma ES média de 78,6 ± 1,6%, e uma taxa de ES > 80% em 44,9% dos casos. As fraturas calcificadas pós-IVL foram identificadas em 75,5% dos pacientes. A taxa de sucesso do procedimento (estenose residual < 30%) foi de 98%, com uma única complicação maior intra-hospitalar (2,0%: morte cardíaca).
A mediana da ΔComC foi de 0,33 mm²/mm Hg (RIC: 0,19–0,70; p < 0,01). Na análise multivariada, a ΔComC se manteve como o único preditor independente tanto de ES em MSA (R = 0,420; p = 0,044) quanto de ES > 80% em MSA (OR: 6,58; IC 95%: 1,24–34,90; p = 0,043).
Cabe destacar que o valor da ComC posterior à IVL (post-ComC) não se associou de forma significativa com esses desfechos, o que ressalta a importância da mudança relativa (ΔComC) por sobre o valor absoluto final da compliance.
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Este achado concorda com a fisiopatologia das lesões calcificadas, nas quais a compliance permanece limitada inclusive após uma intervenção bem-sucedida.
Conclusões
A melhora funcional na compliance coronariana posterior à IVL se associou de maneira independente como preditor de uma adequada expansão do stent (ES e ES > 80%). Isso aporta uma métrica funcional, dinâmica e em tempo real que poderia guiar a preparação ótima da lesão durante a PCI, minimizando a necessidade de técnicas adicionais mais agressivas.
Título original: Coronary Compliance Modification by Intravascular Lithotripsy: New Predictor of Stent Expansion in Calcified Coronary Lesions.
Referencia: Oliveri F, Van Oort MJH, Al Amri I, Bingen BO, Claessen BE, Dimitriu-Leen AC, Kefer J, Girgis H, Vossenberg T, Van der Kley F, Jukema JW, Montero-Cabezas JM. Coronary Compliance Modification by Intravascular Lithotripsy: New Predictor of Stent Expansion in Calcified Coronary Lesions. J Soc Cardiovasc Angiogr Interv. 2025 May 1;4(5):102635. doi: 10.1016/j.jscai.2025.102635. PMID: 40454281; PMCID: PMC12126079.
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