Utilização de balões recobertos de fármacos em oclusões totais crônicas. Registro ERCTO

As oclusões totais crônicas (CTO) coronarianas continuam representando um desafio importante na cardiologia intervencionista, afetando entre 16% e 18% dos pacientes com doença arterial coronariana. Embora os stents eluidores de fármacos (DES) tenham representado um avanço significativo no tratamento das CTO, seu uso em segmentos extensos ainda apresenta limitações, como maior risco de reestenose, reoclusão e alterações na função vasomotora. 

Os balões recobertos de fármacos (DCB) demonstraram eficácia no tratamento de lesões de novo, especialmente em vasos de pequeno calibre. No contexto das CTO, os DCB constituam sendo uma alternativa promissora para reduzir o comprimento dos stents implantados ou, em determinados casos, inclusive evitar sua colocação. Contudo, a evidência disponível sobre seu emprego na angioplastia transluminal coronariana (ATC) de CTO continua sendo limitada, baseada em estudos observacionais com pequenas coortes, ainda que com resultados alentadores. 

O objetivo deste estudo retrospectivo, observacional e não randomizado foi analisar os procedimentos de ATC de CTO incluídos no ERCTO (Registro Europeu de Oclusões Totais Crônicas), com o fim de avaliar a frequência de uso de DCB, as características das lesões tratadas e os resultados intra-hospitalares. 

De um total de 40.449 procedimentos de ATC de CTO realizados em 184 centros, utilizaram-se DCB em 2.506 procedimentos (6,2%). Seu emprego aumentou progressivamente, passando de 3,4% (n = 185 de 5.498) em 2016 a 14,9% (n = 705 de 4.722) em 2023. A idade média dos pacientes foi de 65,2 anos, sendo a maioria da população composta por homens. A artéria mais afetada foi a coronária direita, seguida da descendente anterior. Em 70% dos casos, o escore J-CTO foi > 2.

Leia também: Complicações intra-hospitalares após o implante percutâneo da valva aórtica em valvas bicúspides vs. tricúspides: um estudo retrospectivo de coorte.

As complicações intra-hospitalares foram pouco frequentes. No entanto, as CTO tratadas com DCB mostraram uma taxa significativamente menor de tamponamento cardíaco (0,1% [n = 2 de 2.506] vs. 0,4% [n = 169 de 37.943]; p = 0,006). Após o ajuste por escore de propensão, o uso de DCB se associou com um menor comprimento total de stents implantados (44,2 ± 36,9 mm [IC de 95%: 42,7–45,7] vs. 58,1 ± 35,9 mm [IC de 95%: 56,7–59,5]; p < 0,001) e com uma redução do volume de contraste administrado (202,4 ± 109,8 ml [IC de 95%: 198,1–206,7] vs. 211,6 ± 123 ml [IC de 95%: 206,8–216,4]; p = 0,005).

Conclusão 

Neste estudo observacional de grande coorte do Registro ERCTO evidenciou-se um incremento progressivo na utilização de DCB em procedimentos de ATC de CTO. Seu uso permitiu reduzir o comprimento dos stents implantados, diminuir o volume de contraste administrado e se associou com uma menor incidência de tamponamento cardíaco. 

Título Original: Drug-Coated Balloons in the European Registry of Chronic Total Occlusion The ERCTO Registry.

Referência: Niccolò Ciardetti, MD et al JACC Cardiovasc Interv. 2025;18:2209–2221.


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Dr. Andrés Rodríguez
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