Mais pistas para definir a estenose aórtica moderada

Em plena corrida por tentar demonstrar que uma intervenção precoce poderia ter benefícios na estenose aórtica moderada, surge este trabalho para nos fazer voltar às bases. 

estenosis aórtica moderada

Em pacientes com estenose aórtica sintomática a mortalidade desenha um pico claro que justifica a intervenção. Mas, o que ocorre se esses sintomas não estão presentes? De acordo com esta recente análise publicada no JAMA, a estenose aórtica moderada assintomática não traz consigo uma mortalidade maior à de uma estenose leve. 

Portanto, isso nos leva a reavivar o clássico conceito de nos basearmos nos sintomas (acompanhar de perto e esperar) para as estenoses aórticas moderadas. 

No entanto, a nova tendência de procurar fatores prognósticos para encontrar os pacientes que possam se beneficiar com uma intervenção precoce deve continuar. 

Neste trabalho, não foi possível diferenciar a mortalidade observada nos pacientes com estenose aórtica leve da mortalidade esperada na população geral. Os pacientes que tinham estenose moderada, ao contrário, diferenciaram-se da população geral com um maior risco de mortalidade cardiovascular (logicamente que sem alcançar os pacientes com estenose severa). 

A mortalidade algo mais elevada em pacientes com estenose moderada ocorreu naqueles pacientes que apresentavam sintomas. Por que uma estenose moderada provocaria sintomas? A resposta é que talvez as estenoses não estivessem bem avaliadas e quiçá haja pacientes que requeiram marcadores adicionais. 


Leia também: STOPDAPT-2 ACS: Um mês de DAPT NÃO é suficiente em pacientes agudos.


Neste ponto podemos juntar o conceito clássico com a nova tendência: esperar que apareçam os sintomas é correto para a maioria dos pacientes; no entanto, alguns (ainda não sabemos quantos) se beneficiam com a realização de uma avaliação adicional e, talvez, com uma intervenção precoce. 

O estudo VALVENOR incluiu 2703 pacientes ambulatoriais com estenose aórtica. O grau de estenose foi definido de acordo com a velocidade pico no ecocardiograma transtorácico. Assim, a população ficou dividida em 42,7% com estenose leve (velocidade entre 2,5 e 2,9 m/seg), 41,5% com estenose moderada (velocidade entre 3 e 3,9m/seg) e 15,8% com estenose severa (≥ 4 m/seg de velocidade pico).

Não foram observadas diferenças no resto das características basais. 


Leia também: La FDA aprueba un tercer dispositivo que entra en la competencia del TAVI.


Durante o seguimento 775 pacientes mostraram progressão da estenose no ecocardiograma: 45,2% evidenciou um progresso de leve a moderado, 7,7% de leve a severo e 47,1% de moderado a severo. 

Foram submetidos a intervenção 634 dos 775 pacientes com progressão da doença. A não intervenção se deveu à negativa do pacientes ou à morte durante a espera do procedimento. 

Nossos esforços devem se direcionar a encontrar os pacientes com uma progressão mais rápida do que a esperada ou que faleçam por causa cardiovascular (insuficiência cardíaca ou morte súbita) com uma estenose que continue sendo moderada. 

Título original: Association of mortality with aortic stenosis severity in outpatients: results from the VALVENOR study.

Referência: Coisne A et al. JAMA Cardiol. 2021 Sep 29. Online ahead of print. doi: 10.1001/jamacardio.2021.3718. 


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...