Dispositivos de oclusão percutânea vs. compressão manual

Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro.

 

Dispositivos de oclusão percutânea vs. compressão manualO sangramento maior após as intervenções coronárias percutâneas (PCI) foi associado à mortalidade em curto prazo nas síndromes coronárias agudas (SCA).

 

Já sabemos que a via radial demonstrou ser mais segura que a via femoral, especialmente nos subgrupos de alto risco e, dentro deles, nas SCA com supradesnivelamento do segmento ST. Contudo, a via femoral continua sendo amplamente utilizada como via de acesso para as PCI.

 

Embora a compressão manual seja a técnica padrão para a obtenção de hemostasia na artéria femoral após a retirada dos introdutores, os dispositivos de oclusão percutânea (DOP) surgiram como uma alternativa, sobretudo nos pacientes com maior risco de complicações vasculares como, por exemplo, os pacientes anticoagulados.

 

Apesar de estes dispositivos terem demonstrado diminuir a incidência de sangramento e complicações vasculares, não podemos obviar o fato de eles terem se associado a complicações graves, tais como a isquemia do membro, a necessidade de intervenção cirúrgica ou infecções.

 

Os guias de prática clínica da AHA valeram uma recomendação de Classe II aos DOP quando são utilizados com o fim de obter hemostasia mais rapidamente e melhorar o conforto do paciente. No entanto, a recomendação passa a ser Classe III se o dispositivo for utilizado com a intenção de reduzir as complicações vasculares.

O presente registro tem como objetivo avalizar se a utilização do DOP vs. a compressão manual nos acessos femorais apresenta algum benefício em relação à mortalidade no curto prazo (30 dias).

 

Trata-se de um registro nacional que utiliza a base de dados da Sociedade Britânica de Intervenções Cardiovasculares, realizada no Reino Unido, que incluiu todas as angioplastias realizadas desde o ano 2006 até o ano 2011. Foram incluídos todos os procedimentos, tanto os eletivos quanto as SCA (n = 271.845).

 

Foram excluídos da análise os pacientes que tinham sido submetidos ao acesso por via radial e os pacientes nos quais não se especificava a forma de hemostasia. Realizaram-se escores de propensão nos subgrupos clinicamente relevantes.

 

A hemostasia manual foi utilizada em 40,1% dos pacientes (n = 109.001) e os DOP em 59,9% (n = 162.844). Os pacientes do grupo DOP tiveram menos comorbidades, menos angioplastias primárias e choque cardiogênico (p < 0,001).

 

A mortalidade em 30 dias foi menor no grupo tratado com DOP se comparado com a compressão manual: 1,4% vs. 2,4% HR 0,58; 95% IC o,54-0,61 (p < 0,001), achado que persiste significativamente após a correção de acordo com o escore de propensão: 1,8% vs. 2,0% HR 0,91; IC 95% 0,86-0,97 (p < 0,001).

 

A análise de subgrupos mostrou que a redução da mortalidade foi maior nas mulheres: HR 0,85; IC 95% 0,77-0,95 (p = 0,037) e nos que apresentaram SCA na admissão: HR 0,88; IC 95% 0,83-0,94 (p = 0,0027) ou trombose recente: HR 0,63; IC 95% 0,40-1,01 (p = 0,0001).

 

Conclusão

O estudo conclui que, comparados com a compressão manual, os DOP se associam a uma modesta redução da mortalidade no curto prazo.

 

Comentário editorial

Este registro, apesar de contar com um número mais que interessante de pacientes – utilizando ajuste de variáveis – não permite, por sua natureza, assegurar que os resultados obtidos na mortalidade não estejam influenciados por outros fatores não analisados.

 

O único dado obtido fidedignamente da base é a mortalidade, não havend0 dados de outras complicações, sobretudos vasculares, que possam ser apresentados com a utilização do dispositivo.

 

Entretanto, oferece informação relevante sobre o uso de DOP, que talvez fomente mais sua utilização e possa levar a mudanças no grau de recomendação dos guias de prática clínica.

 

Título Original: Relation Between Femoral Vascular Closure Devices and Shot Term Mortality from 217845 Percutaneous Coronary Intervention Procedures Performed in the United Kingdom Between 2006 and 2011. A propensity Score Corrected Analysis From the British Cardiovascular Intervention Society.

Referência: Vasin Farooq et al. Circ Cardiovasc Interv.2016;9:e003560.

 

Gentileza do Dr. Guillermo Migliaro. Hospital Alemão, Buenos Aires, Argentina.

 

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