Mecanismos de infarto em coronárias sem lesões significativas

Os infartos sem doença coronariana obstrutiva – também conhecidos pelas siglas MINOCA (myocardial infarction with nonobstructive coronary arteries) – apresentam, com frequência, ruptura de placas e trombos que se relacionam com o território miocárdico afetado. Nos pacientes com este tipo de afecção, a tomografia de coerência ótica (OCT) é de grande valor para identificar o “culpado”.

Embora a doença aterosclerótica sempre tenha sido postulada como um potencial mecanismo de MINOCA, a associação entre ruptura de placa e injúria miocárdica nunca foi comprovada. 

Este trabalho recentemente publicado no JACC Cardiovasc Imaging analisou prospectivamente pacientes com infarto agudo do miocárdio, mas sem lesões significativas (todas < 50%) na angiografia que foram submetidos a OCT e ressonância magnética com realce tardio de gadolínio. A artéria responsável pelo infarto foi definida de acordo com o território mostrado pela ressonância. 

Mais da metade dos pacientes (55%) com MINOCA se compôs de mulheres (algo esperado) e 39% se apresentaram com supradesnivelamento do segmento ST. O diâmetro máximo de estenose foi de 35% e em 13% dos pacientes a angiografia foi completamente normal. 


Leia também: Qual é a tensão arterial ótima?


A OCT mostrou disrupção de placa em 24% e trombo em 18% dos pacientes. 

A metade do total mostrou um padrão isquêmico com realce tardio com gadolínio e isso foi mais frequente naqueles pacientes com ruptura de placa vs. nenhuma placa rota (50% vs. 13%; p = 0,053) e naqueles com imagem de trombo vs. nenhum trombo (67% vs. 12%; p = 0,014).

Ao analisar as lesões, as catalogadas como responsáveis pelo evento mostraram de forma mais frequente, na OCT, ruptura de placa (40% vs. 6%; p = 0,02), trombo (50% vs. 4%; p = 0,014) e fibroateroma de capa fina (70% vs. 30%; p = 0,03) em comparação com as lesões não responsáveis. 

Conclusão

A ruptura de placa e os trombos são um mecanismo frequente de infarto em pacientes sem lesões significativas na angiografia. Este fato pode se associar com a localização do território isquêmico pelo realce tardio de gadolínio na ressonância magnética. 

A OCT é muito útil para identificar a etiologia aterosclerótica nos pacientes com MINOCA. 

 

Título original: Mechanisms of Myocardial Infarction in Patients With Nonobstructive Coronary Artery Disease. Results From the Optical Coherence Tomography Study.

Referência: Maksymilian P. Opolski et al. JACC Cardiovasc Imaging. 2019 Nov;12 2210-2221.


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