O FFR nos tempos do ISCHEMIA

Este grande registro multicêntrico da “vida real” tem resultados muito similares aos dos ensaios clínicos randomizados que estudaram o fluxo fracionado de reserva (FFR). 

Diferir as lesões com base no FFR é uma estratégia muito segura, mesmo quando de lesões da descendente anterior proximal se trata. 

Os estudos randomizados e controlados FAME e DEFER mostraram de forma categórica a segurança de diferir a revascularização de lesões com base no FFR, mas faltava um estudo prospectivo de grande escala do mundo real que confirmassem isso. 

Dita confirmação veio com o estudo J-CONFIRM, realizado pelo Dr. Shoichi Kuramitsu e colaboradores, que foi recentemente publicado no Circulation Cardiovascular Interventions.


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Prestigiosos pesquisados, como o Dr. William Fearon (autor principal do estudo FAME), opinaram que este registro do mundo real com seguimento de longo prazo termina de fechar a lacuna de informação que tínhamos e confirma definitivamente a segurança do FFR. 

O estudo J-CONFIRM incluiu 1.263 pacientes de 28 centros do Japão entre 2013 e 2015.

Todos foram avaliados com FFR e revascularizados de acordo com o resultado do mesmo.

Após 2 anos a taxa de eventos no vaso alvo (desfecho primário do estudo) foi de 5,5% nas lesões diferidas. Praticamente todos esses eventos foram revascularizações justificadas pela clínica (5,2%), isto é, progressão das placas. A morte por causa cardíaca ou os infartos relacionados às lesões diferidas foram pouco frequentes no seguimento (0,42%), o suficientemente pouco frequentes para que as lesões diferidas não representem um problema de segurança.  


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Um dado importante é que os eventos se associaram inversamente ao valor do FFR: quanto menor o valor da medição, maior o risco de eventos no seguimento de 2 anos. Isso foi especialmente válido para as lesões proximais. O FFR tem um valor de corte, o que não o transforma em uma variável binária, mas sim em uma variável contínua. 

Os preditores independentes de eventos em placas que são diferidas foram o valor do FFR basal (observando o fenômeno de variável contínua), as lesões localizadas no tronco da coronária esquerda, a calcificação de moderada a severa, a necessidade de hemodiálise ou as lesões da coronária direita. Perante ditos fatores as lesões podem ser diferidas, mas deveríamos fazer um seguimento mais estrito.  

Para exemplificar o anteriormente afirmado, poderíamos dizer que um paciente com um valor basal de FFR de 0,81 vai apresentar uma maior taxa de eventos em comparação com um valor de FFR de 0,95, embora ambos possam ser diferidos com segurança. Simplesmente devemos pensar no seguimento clínico mais estrito no primeiro caso. 

Título original: Two-year outcomes after deferral of revascularization based on fractional flow reserve: the J-CONFIRM registry.

Referência: Kuramitsu S et al. Circ Cardiovasc Interv. 2020;12:e008355.


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