Como manejamos a antiagregação nos sangramentos Tipo I após o infarto agudo do miocárdio?

A dupla antiagregação plaquetária (DAPT) após o infarto agudo do miocárdio (IAM) demonstrou sua grande utilidade na diminuição dos eventos trombóticos, mas uma de suas desvantagens é o sangramento, especialmente nos pacientes de idade avançada. 

Dentre as complicações, os sangramentos de Tipo 1 da classificação BARC, também chamados de inocentes, são pouco frequentes, mas sua evolução e seu significado não está esclarecido, assim como a conduta a adotar perante sua ocorrência. 

Fez-se uma subanálise do estudo TALOS-AMI na qual foram incluídos 2583 pacientes submetidos a DAPT com AAS e ticagrelor após o IAM. Dentre eles, 416 (16,1%) apresentaram sangramento inocente (SI). 

Os pacientes que apresentaram SI eram mais jovens (58 anos vs. 60 anos; p = 0,01), sem haver diferença em termos de comorbidades. A função renal estava conservada e não houve diferenças quanto ao vaso tratado nem ao número de stents implantados. 

O redução medicamentosa foi realizada de ticagrelor a clopidogrel. 

Em um ano de seguimento os sangramentos inocentes ou Tipo 1 não se associaram a um incremento de sangramentos BARC 2-3 ou 5 (hazard ratio [HR]‚ 1,29 [95% CI‚ 0,7–2,14]) nem a eventos cardiovasculares maiores (HR, 1,94 [95% CI, 1,08–3,48]; p = 0,026).

Leia também: O Valve-in-Valve apresenta uma boa evolução em dois anos.

A redução medicamentosa de ticagrelor a clopidogrel teve incidência na diminuição de sangramentos em comparação com o ticagrelor mais AAS nos sangramentos Tipo I (HR‚ 0,31 [95% CI‚ 0,10–0,92]).

Não houve incrementos dos eventos cardíacos maiores com a redução medicamentosa. 

Conclusão

Os sangrados inocentes ou de Tipo 1 são frequentes após o IAM no primeiro mês de administração de DAPT com ticagrelor e associaram-se a um sangramento precoce. A redução medicamentosa após os sangramentos inocentes talvez incida na diminuição dos sangramentos sem um incremento dos riscos de eventos isquêmicos. 

Dr. Carlos Fava - Consejo Editorial SOLACI

Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Prognosis and the Effect of De-Escalation of Antiplatelet Therapy After Nuisance Bleeding in Patients With Myocardial Infarction.

Referência: Eun Ho Choo,e tal. Circ Cardiovasc Interv. 2022;15:e012157. DOI: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.122.012157.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...