Ticagrelor ou Prasugrel pós-angioplastia coronariana em pacientes da prática diária

O estudo ISAR-REACT 5 evidenciou uma redução significativa no desfecho composto de morte, infarto do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC) com o uso de prasugrel em comparação com ticagrelor em pacientes com síndrome coronariana aguda (SCA), principalmente impulsionada pela redução do IAM. 

Ticagrelor o Prasugrel post angioplastia

O mencionado trabalho mudou a prática clínica embora tenham sido criticadas certas questões metodológicas do estudo como seu desenho aberto, diferenças basais no pré-tratamento ou ainda o cross-over (20% dos pacientes trocaram o antiagregante ao receberem alta). A partir desses resultados a Sociedade Europeia de Cardiologia, em seu último guia de SCA sem elevação do ST, recomendou o uso de prasugrel por sobre o uso de ticagrelor. 

Existem escassos trabalhos nos quais são comparados esses inibidores P2Y12 cabeça a cabeça, sobretudo em pacientes que não apresentam SCA. Segundo o PINNAPLE Registry, realizado nos Estados Unidos, aproximadamente 34% dos pacientes sem SCA que foram submetidos a uma angioplastia coronariana (ATC) receberam ticagrelor ou prasugrel. O objetivo deste estudo realizado por Koshy et al foi comparar a eficácia e a segurança do prasugrel vs. o ticagrelor em uma coorte contemporânea de pacientes do mundo real submetidos a uma ATC (real world data). 

Incluíram-se pacientes consecutivos que foram submetidos a ATC em um centro terciário dos Estados Unidos (Mount Sinai Hospital), tanto com SCA quanto com síndromes coronarianas crónicas (SCC) que puderam receber dupla antiagregação plaquetária. Foram excluídos pacientes com choque cardiogênico ou aqueles com anticoagulação oral. 

Leia também: Há diferenças entre doença coronariana focal e difusa no que se refere aos sintomas e à qualidade de vida?

A terapia de manutenção com prasugrel foi de 5 mg/dia para a maioria dos casos, exceto aqueles com peso ≥ 100 kg ou com presença de 3 stents no mesmo vaso, nos quais se usou 10 mg/dia. 

O desfecho primário (DP) foi uma combinação de mortalidade por todas as causas e IAM em um ano. Os desfechos secundários foram o índice de revascularização do vaso, a trombose do stent, o sangramento, o AVC e os componentes individuais do DP. 

Foram incluídos 3858 pacientes com uma idade média de 62 ± 10 anos, 22,7% do sexo feminino. O P2Y12 mais usado foi o Ticagrelor (71,8%) e o cenário clínico mais frequente foi SCC (48,4%), seguido de angina instável (26,7% e SCASEST (17,5%).

Leia também: Será a denervação pulmonar uma alternativa válida na hipertensão pulmonar de grau I?

Não se evidenciaram diferenças significativas em termos de DP, 3,3% em pacientes com ticagrelor vs. 3,1% dos pacientes com prasugrel (HR ajustado 0,88, IC 95% 0,54-1,43; p = 0,59). Não foram observadas diferenças significativas em termos de AVC ou trombose do stent (HR 1,54, IC 95% 0,49-4,80; p = 0,456). Por outro lado, ao analisar o índice de revascularização em um ano de seguimento, observou-se uma menor taxa de eventos com o ticagrelor (HR ajustado 0,71, IC 95% 0,55-0,91; p = 0,007), benefício também observado no subgrupo de pacientes com SCA. 

CONCLUSÕES

Neste estudo contemporâneo que inclui tanto pacientes com SCA como com SCC, não foram observadas diferenças com relação à incidência do DP, levando em conta as limitações do caráter observacional do estudo. Por sua vez, evidenciou-se um menor índice de nova revascularização com o ticagrelor, resultados que não coincidem com estudos prévios. Isso poderia se dever, em parte, à diferença basal nos ramos investigativos (prasugrel tinha pacientes com revascularização prévia ou cirurgia de revascularização miocárdica). Os resultados aqui exibidos motivam a que se prossiga na busca de trabalhos randomizados que avaliem cenários clínicos distintos do SCA. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Ticagrelor vs Prasugrel in a Contemporary Real-World Cohort Undergoing Percutaneous Coronary Intervention.

Referência: Koshy, Anoop N et al. “Ticagrelor vs Prasugrel in a Contemporary Real-World Cohort Undergoing Percutaneous Coronary Intervention.” JACC. Cardiovascular interventions vol. 15,22 (2022): 2270-2280. doi:10.1016/j.jcin.2022.09.021.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

SCACEST e uso de bivalirudina vs. heparina: em busca dos resultados do BRIGHT-4

Diversos estudos e registros demonstraram o impacto das complicações posteriores à angioplastia (PCI) na sobrevivência dos pacientes com síndrome coronariana aguda com elevação do...

TAVI e fibrilação atrial: que anticoagulantes deveríamos usar?

A prevalência de fibrilação atrial (FA) em pacientes submetidos a TAVI varia entre 15% e 30%, dependendo das séries. Essa arritmia está associada a...

Stents de hastes ultrafinas vs. stents de hastes finas em pacientes com alto risco de sangramento que são submetidos a angioplastia coronariana

Vários estudos in vivo demonstraram que os stents com hastes ultrafinas apresentam um menor risco trombogênico do que os stents com hastes finas, o...

Devemos suspender a anticoagulação antes do TAVI?

Aproximadamente um terço dos pacientes que são submetidos a TAVI apresentam fibrilação atrial e estão sob tratamento com anticoagulantes orais (ACO). Isso cria um...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Estudo TRI-SPA: Tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) é uma doença associada a alta morbimortalidade. A cirurgia é, atualmente, o tratamento recomendado, embora apresente uma elevada taxa de...

Estudo ACCESS-TAVI: Comparação de dispositivos de oclusão vascular após o TAVI

O implante transcatéter da valva aórtica (TAVI) é uma opção de tratamento bem estabelecida para pacientes idosos com estenose valvar aórtica severa e sintomática....

Tratamento endovascular da doença iliofemoral para melhorar a insuficiência cardíaca com FEJ preservada

A doença arterial periférica (EAP) é um fator de risco relevante no desenvolvimento de doenças de difícil tratamento, como a insuficiência cardíaca com fração...