FFR pós-angioplastia coronariana

Diversos estudos sobre a utilidade de realizar testes funcionais como o fluxo fracionado de reserva (FFR) antes de uma angioplastia coronariana (ATC) foram levados a cabo, observando-se que um valor patológico se correlacionava com a presença de eventos maiores em 6 meses, tal como ficou demonstrado no estudo Pijls et al.

O impacto no prognóstico ao realizar o FFR pós-ATC não foi estudado em coortes contemporâneas, com stents de última geração e em cenários complexos como a doença de múltiplos vasos, passíveis de serem tratados tanto por ATC como por cirurgia de reperfusão miocárdica (CRM). 

No estudo FAME 3 comparou-se a angioplastia de múltiplos vasos guiada por FFR com CRM (não incluídos os pacientes com doença de tronco da coronária esquerda). Nesse estudo não foi alcançado o limite de não inferioridade para a combinação de morte, IAM, AVC ou nova revascularização. A partir desses resultados, foi feita uma subanálise com o objetivo de avaliar o valor prognósticos do FFR pós-ATC nesses pacientes. 

O desfecho primário (DP) foi a falha de revascularização índice, definida como um desfecho composto de morte cardíaca, IAM do vaso tratado e nova revascularização do vaso tratado em um ano. 

Leia também: Utilidade do gradiente trans-stent como preditor de resultados adversos no seguimento.

Dos 1500 pacientes do FAME 3, 757 foram randomizados para o ramo de FFR e, dentre eles, 61% foram submetidos a uma mensuração do FFR após a ATC. Por protocolo não foram feitas mudanças na terapêutica após a nova mensuração. 48% das medições foram feitas na descendente anterior, 24,2% na circunflexa e 27,6% na coronária direita. A mensuração média de FFR foi de 0,89 (RIC 0,85), ficando em 9,1% dos casos abaixo de 0,80.

Ao fazer a análise de regressão múltipla evidenciou-se que os preditores de realização de FFR pós-angioplastia foram o sexo masculino, a localização da descendente anterior, o diâmetro mínimo do stent e o comprimento total do stent. O FFR patológico pós-PCI foi um preditor de falha na revascularização (TVF) (HR = 0,67, IC 95% 0,48-0,93, para 0,1 de aumento de unidade; p = 0,165). Foi feita uma análise com curva ROC, determinando-se 0,88 como o melhor ponto de corte para a definição dos eventos TVF. 

Na análise multivariada os fatores independentes do DP foram a doença renal (HR 5,71, IC 95% 1,91-17,1; p = 0,002) e o valor alterado de FFR de forma contínua (HR 0,67, IC 0,49-0,91; p = 0,03).

Leia também: Insuficiência mitral significativa associada a choque cardiogênico: será que o tratamento borda a borda é uma estratégia válida?

Foi feita outra análise em pacientes que foram submetidos a estudo de imagens intravasculares (11,1% dos pacientes do ramo FFR), não evidenciando-se maiores índices de mortalidade cardíaca, IAM ou nova revascularização em comparação com os pacientes que não foram submetidos a IVUS/OCT (log-rank p = 0,21).

Conclusões

Nesta subanálise do FAME 3, a presença de um valor alterado de FFR após a angioplastia em pacientes com doença complexa de múltiplos vasos foi preditora de eventos cardiovasculares, principalmente por falha na revascularização em um ano, ao passo que o uso de imagens intravasculares não diminuiu os desfechos estudados. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Prognostic Value of Measuring Fractional Flow Reserve After Percutaneous Coronary Intervention in Patients With Complex Coronary Artery Disease: Insights From the FAME 3 Trial.

Referência: Piroth, Zsolt et al. “Prognostic Value of Measuring Fractional Flow Reserve After Percutaneous Coronary Intervention in Patients With Complex Coronary Artery Disease: Insights From the FAME 3 Trial.” Circulation. Cardiovascular interventions vol. 15,11 (2022): 884-891. doi:10.1161/CIRCINTERVENTIONS.122.012542.


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