Cirurgia da valva mitral pós-tratamento borda a borda

Nos últimos anos, o tratamento borda a borda com MitraClip demonstrou ser seguro e efetivo, tanto nas insuficiências mitrais (IM) primárias quanto nas secundárias, devido à maior experiência dos intervencionistas e dos ecocardiografistas. No entanto, existe um grupo que após o tratamento percutâneo requer cirurgia por não apresentar uma boa evolução ou por não ser factível o implante do dispositivo. 

Cirugía valvular mitral post tratamiento borde a borde

Não contamos, na atualidade, com grandes estudos sobre esta população nem com informação a respeito do fato de a etiologia – primária ou secundária – impactar no resultado. Por sua vez, não dispomos de dados sobre a evolução da cirurgia. 

Foi feita uma análise do CUTTING-EDGE Registry de 2009 a 2020 na qual foram incluídos 330 pacientes que foram submetidos a tratamento cirúrgico após a indicação do tratamento borda a borda. Dentre eles, 155 (47%) tinham IM primária e 175 IM secundária. 

Os critérios de inclusão foram: IM residual ou significativa, estenose mitral significativa, lesão da valva, endocardite, deslocamento do dispositivo, embolização do dispositivo ou impossibilidade de realizar o implante. 

A idade média foi de 73 anos e 42% dos pacientes eram mulheres. 10,3% apresentavam CV prévio, 15,8% doença vascular periférica, 35,5% DPOC, 4,2% diálise, 56% hipertensão pulmonar, 58,5% fibrilação atrial e 26% cirurgia cardiovascular prévia. O STS foi de 4%. A maioria dos pacientes estavam em classe funcional III-IV.

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Os pacientes que tinham IM secundária apresentavam doença coronariana de maior magnitude, diabete, deterioração da função renal (41,3% vs. 62,3%; p < 0,0001) e marca-passo. 

A fração de ejeção do ventrículo esquerdo foi menor no grupo com IM secundária (41,1% vs. 55,6%; p < 0,001). 

O tempo médio entre o tratamento borda a borda e a cirurgia foi de 3,5 meses e a causa foi: IM recorrente em 33,6% dos casos, IM residual em 28,8%, perda da inserção do dispositivo na valva em 25,2%, deslocamento parcial em 21,1%, estenose mitral em 14,5% e embolização em 2,1%. A presença de estenose mitral foi mais frequente na IM secundária (19,4% vs. 9%); p = 0,008). 

A mortalidade hospitalar e em 30 dias (global) foi de 15,2% no grupo de IM primária e de 16,7% no grupo de IM secundária. Em 30 dias houve uma tendência de maior mortalidade nas IM secundárias (20,4% vs. 12,7%; p = 0,07).  Não houve diferença em termos de estadia hospitalar (13 dias) nem nas reinternações (6,2%) ou nas complicações intra-hospitalares. 

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Em 1 ano a mortalidade foi de 31,3% em termos globais, sendo maior nas IM secundárias (38,3% vs. 23,2%; p = 0,01). 

A sobrevida atuarial global após a cirurgia da valva mitral foi de 75,9% em 1 ano e de 68,3% em 3 anos, sendo menor nas IM secundárias. 

Os preditores de mortalidade em 1 ano foram: a insuficiência renal, a IM pré-operatória, a cirurgia de urgência, o sexo masculino, a cirrose, a insuficiência tricúspide e o tempo de circulação extracorpórea. 

Conclusão

O risco de cirurgia após o tratamento borda a borda não é trivial, já que apresenta uma alta mortalidade, especialmente nos pacientes com IM secundárias. Estes achados proporcionam informação valiosa para futuras pesquisas, sempre com o objetivo de melhorara a evolução. 

Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Impact of Mitral Regurgitation Etiology on Mitral Surgery After Transcatheter Edge-to-Edge Repair. From de CUTTING-EDGE Registry.

Referência: Zaid, et al. J Am Coll Caridoll Intv 2023;16:1176-1188.


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