É possível suspender os Betabloqueadores pós-infarto agudo do miocárdio

Os betabloqueadores (BB) foram a primeira medicação da história que tentou diminuir eventos após um infarto agudo do miocárdio há já muitíssimos anos. Entretanto, em todo o tempo transcorrido desde seu aparecimento em cena, outras medicações bem como a reperfusão surgiram como prevenção secundária que poderia fazer sombra àquele benefício original demonstrado pelos betabloqueadores.

Este estudo testou a teoria de suspender os betabloqueadores após um infarto agudo do miocárdio em pacientes sem insuficiência cardíaca e com o resto da medicação completa.

 

Foram incluídos 73.450 pacientes do registro francês (todos < 80 anos) admitidos cursando um infarto entre 2007 e 2012 e sem evidência de insuficiência cardíaca. O seguimento médio foi de 3,8 anos. Definiu-se como descontinuação de BB o fato de os pacientes passarem 4 meses consecutivos sem recebê-los. Caso seu médico de cabeceira os voltasse a indicar, o seguimento se detinha nesse momento.


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Tanto o risco combinado de morte e readmissões por síndromes coronarianas agudas como a mortalidade por qualquer causa foram medidas em relação à descontinuação dos BB.

 

5.9% dos pacientes descontinuaram os BB e observou-se em ditos pacientes um aumento do risco ajustado de morte ou síndrome coronariana aguda no limite da significância (HR 1,17, IC 95% 1,01 a 1,35). Para mortalidade por qualquer causa o risco não alcançou a significância (HR 1.13, IC 95% 0.94 a 1.36).


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Para ter relevância estes mesmos cálculos foram feitos com a descontinuação das estatinas, observando-se um HR de 2,31 para a combinação de morte e síndrome coronariana aguda (IC 95%, 2,01 a 2,65) e um aumento de duas vezes e meia o risco de morte (HR 2,57, IC 95% 2,19 a 3,02).

 

Conclusão

Em pacientes sem evidências de insuficiência cardíaca – revascularizados e otimamente tratados após um infarto agudo do miocárdio – suspender os betabloqueadores um ano após o infarto se associa a um aumento do risco combinado de morte e reinfarto, mas não de morte por qualquer causa. É necessário um estudo randomizado contemporâneo que avalie a longo prazo o papel dos betabloqueadores pós-infarto.

 

Título original: Clinical Events After Discontinuation of βBlockers in Patients Without Heart Failure Optimally Treated After Acute Myocardial Infarction. A Cohort Study on the French Healthcare Databases.

Referência: Anke Neumann et al. Circ Cardiovasc Qual Outcomes. 2018;11:e004356.


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