Angina pós-angioplastia coronariana: uma complicação evitável ou inerente ao procedimento?

Prognosticadores de angina pós-intervenção em pacientes submetidos a uma angioplastia. 


Dentre as intercorrências pós-tratamento percutâneo da cardiopatia isquêmica com colocação de stent (PCI), aquelas que são definidas como crônicas podem afetar a qualidade de vida dos pacientes, com uma limitação funcional e cognitiva importante. Ditas intercorrências estão associadas com a ansiedade a longo prazo e a depressão. 

Angina post angioplastia coronaria

Segundo dados aportados pelo ISCHEMIA trial, os pacientes com isquemia moderada a severa, randomizados a uma estratégia invasiva inicial, melhoraram seus status de saúde em comparação com os que foram submetidos a tratamento conservador (benefício ainda maior naqueles pacientes com angina de base no estudo). Por sua vez, conforme registros e estudos prévios, a angina pós-PCI pode chegar a afetar entre 20 a 40% dos pacientes a curto e médio prazo. 

O estudo TARGET-FFR foi desenhado para avaliar a eficácia de uma otimização da angioplastia guiada por fisiologia (FFR) vs. guiada por angiografia convencional. No estudo foram admitidos pacientes com síndromes coronarianas crônicas ou agudas (SCA) estabilizados, randomizados 1:1, com um seguimento dos sintomas de angina de acordo com o questionário de Seattle (SAQ-7) e conforme seu status de saúde, segundo questionário EQ-5D-5L. Definiu-se como positivos para angina pós-PCI todos aqueles pacientes com um escore de frequência de SAQ < 100 (livres de angina se o SAQ = 100).

Foi feito um seguimento médio de 3 anos pós-PCI, o desfecho primário clínico foi falha do vaso tratado (desfecho composto de morte cardiovascular, IAM do vaso alvo e revascularização do vaso alvo). 

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Foram incluídos 230 pacientes com uma idade média de 60 anos, sendo 87.8% do sexo masculino. 38,3% deles tiveram angina pós-PCI conforme o escore SAQ. Dentre esses pacientes anginosos, 5,7% não tinham angina antes da angioplastia (efeito iatrogênico).

Os pacientes com angina apresentaram, de maneira basal, maior incidência de SCA e angioplastia coronariana prévia em contraposição com os pacientes sem angina. Por sua vez, a presença do antecedente de fibrilação atrial e tabagismo também foi visto com maior frequência nos pacientes anginosos. 

Ao analisar as coronariografias não houve diferença na severidade da estenose entre os dois grupos. Observou-se, diferentemente do que se pensava, que os pacientes sem angina tiveram lesões mais severas na análise fisiológica e apresentaram uma melhora mais evidente nos índices pós-angioplastia (hiperêmicos e não hiperêmicos). Por sua vez, não se evidenciaram diferenças nessas variáveis da medição pós-PCI. 

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Ao analisar os sintomas, o escore de SAQ foi significativamente menor, tanto em termos basais quanto no seguimento, nos pacientes anginosos. O FFR teve uma correlação positiva mas moderada com o escore de SAQ, bem como com a CFR (correlação más débil). O delta FFR pós-PCI também mostrou uma débil correlação. Ao fazer uma análise uni e multivariada determinou-se que mudanças pequenas no FFR pós-procedimento se correlacionaram com a presença de angina pós-PCI.

A incidência do desfecho primário no seguimento foi de 1,7%, sem diferença entre o grupo anginoso e o grupo sem angina )0,7% vs. 3,4%; p =0,16).

Conclusões

Observou-se angina residual pós-PCI em 38,3% dos pacientes que foram submetidos a PCI. Por sua vez, estes pacientes apresentaram em termos basais maior carga sintomática (conforme SAQ) e maiores antecedentes de revascularização prévia e tabagismo. O FFR basal e as mudanças no FFR foram os prognosticadores mais importantes de liberdade de angina pós-angioplastia. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Angina After Percutaneous Coronary Intervention: Patient and Procedural Predictors.

Referência: Collison D, Copt S, Mizukami T, Collet C, McLaren R, Didagelos M, Aetesam-Ur-Rahman M, McCartney P, Ford TJ, Lindsay M, Shaukat A, Rocchiccioli P, Brogan R, Watkins S, McEntegart M, Good R, Robertson K, O’Boyle P, Davie A, Khan A, Hood S, Eteiba H, Berry C, Oldroyd KG. Angina After Percutaneous Coronary Intervention: Patient and Procedural Predictors. Circ Cardiovasc Interv. 2023 Apr;16(4):e012511. doi: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.122.012511. Epub 2023 Mar 28. PMID: 36974680; PMCID: PMC10101135.


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3 Comments

  1. João said:

    Boa tarde, após pequeno desconforto em atividade física, fiz um procedimento com stent em overlaping em stent prévio de dez anos atrás, no terço médio da descente anterior.
    Resumindo, após a alta desenvolvi quadro de angina instável todas as manhãs, com crises de 10 em 10 minutos por até duas horas.
    Em pequenos esforços não apresenta o quadro.
    Quadro misterioso. Ecg e dopler normais. Não tenho pressão alta, diabetes, não fumo faz dez anos.e fazia atividade física regular.
    Enfim, estou pior do que antes do procedimento.
    O que sugere?
    Qual sugestão..

    • solaci said:

      Prezado,

      Desde a SOLACI não podemos fazer diagnósticos remotos. Recomendamos que você consulte seu cardiologista primário.

      Atenciosamente.

    • Luciano said:

      Luciano – 16 de janeiro, 2024
      Boa tarde João, sua descrição dos fatos é exatamente o que ocorre comigo, após me submeter ao mesmo procedimento. Você já conseguiu a resposta?

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