BVS, a plataforma da discórdia

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia.

A aparição de plataformas reabsorvíveis gerou muita expectativa na comunidade intervencionista por suas potenciais vantagens em relação aos stents metálicos. Apesar disso, quando se comparou os BVS com o stent Xience observou-se uma taxa acrescida de eventos relacionados com o dispositivo que deixou aqueles em desvantagem. Entre as causas do menor desempenho menciona-se os struts mais largos e grossos do Absorb e as técnicas de implantação subótimas utilizadas nos primeiros ensaios. Pouco se diz sobre o papel da DAPT nessas plataformas e o potencial papel que poderia ter na melhora da performance das mesmas.

BVS, a plataforma da discórdia

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o impacto da suspensão da DAPT sobre a trombose aguda da plataforma (ScT) tardia e muito tardia em pacientes tratados com Absorb BVS. Realizou-se um pooled analysis de registros de três centros (808 pacientes). Analisou-se um grupo de 685 pacientes que tinham recebido DAPT por pelo menos 6 meses e excluíram-se aqueles pacientes com ScT precoce e aqueles anticoagulados. Depois comparou-se a incidência de ScT definitiva/provável durante o período em que os pacientes estiveram sob DAPT contra o período em que não receberam o tratamento.

 

A maioria dos pacientes tinha uma só lesão não complexa que foi tratada com um diâmetro e comprimento médio de 3,1 ± 0,4 e 20,9 ± 5,8 mm, respectivamente. Vale destacar que se utilizou IVUS em 31,3% dos casos e pós-dilatação em 56,7% (não foram relatadas as atmosferas utilizadas).


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 A incidência de ScT foi de 0,83 ScT/100 pacientes por ano com um intervalo de confiança de 95%: 0,34-1,98. Depois da suspensão da DAPT a incidência foi maior: 1,77/100 pacientes por ano; IC 95%: 0,66-4,72), comparada com a incidência sob DAPT: 0,26/100 pacientes por ano; IC 95%: 0,04-1,86; p = 0,12) e aumentou dentro do primeiro mês após a interrupção da DAPT: 6,57/100 pacientes por ano; IC 95%: 2,12-20,38; p = 0,01). Não foram observados eventos de ScT muito tardia em pacientes que continuaram sob DAPT por um mínimo de 18 meses.

 

Os autores concluem que a incidência de ScT tardia/muito tardia foi aceitável e que foi baixa durante o período no qual os pacientes estavam em tratamento com DAPT e potencialmente maior quando a DAPT era suspensa antes dos 18 meses.

 

Comentário editorial

Apesar de as diferenças não serem significativas (talvez pelo baixo número de eventos), quatro de cada cinco casos de ScT ocorreram após um ano e nenhum deles se encontrava em tratamento com DAPT no momento do evento. Em 3 dos 4 pacientes a DAPT foi suspensa entre 10 e 35 dias antes do evento, o que sugere uma relação temporal. Como dados negativos, o número de pacientes e eventos é baixo e esta é uma análise post hoc não desenhada especificamente para avaliar a duração da DAPT, motivo pelo qual ainda falta dados valiosos com a causa da suspensão (este fato é relevante já que sabemos que a interrupção brusca e a suspensão têm prognósticos diferentes).

 

É difícil determinar com a evidência que temos atualmente se a DAPT prolongada é a solução para os problemas dos BVS. No entanto, parece lógico que – de maneira análoga ao que acontece com os DES – prolongar a DAPT nessas plataformas diminua eventos isquêmicos no seguimento distanciado. A soma de uma DAPT prolongada, uma implantação ótima (“PSP”: predilation, sizing, post dilation) e o uso de imagens como guia parece ser a chave para alcançar bons desfechos com os BVS. Utilizando essa estratégia dedicada, Colombo e colaboradores conseguiram 1,2% de ScT em 264 pacientes consecutivos tratados com BVS no seguimento de dois anos (3 casos: 2 nas primeiras 48 horas e uma em 146 dias no contexto de uma suspensão precoce da DAPT).

 

Gentileza del Dr. Agustín Vecchia.

 

Título original: Potentially increased incidence of scaffold thrombosis in patients treated with Absorb BVS who terminated DAPT before 18 months.

Referência: 10.4244/EIJ-D-17-00119.


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